
Se, por um lado, uma cesariana pode ser uma cirurgia essencial e salvar vidas, por outro, pode colocar mulheres e bebês em risco desnecessário a problemas de saúde, quando é realizada sem necessidade médica.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o total de partos cesáreos em relação ao número total de partos realizados em um serviço de saúde seja de 15%.
Já as normas nacionais estabelecem limites percentuais, por estado, para a realização de partos cesáreos, bem como critérios progressivos para o alcance do valor máximo de 25% para todos os estados.
Em Rondonópolis, dados do DataSUS mostram que o percentual de cesarianas vem crescendo ao invés de reduzir progressivamente como recomendado.
Em 2021, 54,53% dos partos realizados na cidade foram cesarianas, número maior que em 2020, quando 53,42% foram partos cesáreos e em 2019, 50,82%. Para Mato Grosso, essa taxa deveria ser de no máximo 30%.
Conforme o Ministério da Saúde, percentuais elevados de cesarianas podem significar, entre outros fatores, a concentração de partos considerados de alto risco em municípios onde existem unidades de referência para a assistência ao parto.
Esse é o caso de Rondonópolis, e segundo o vereador, médico ginecologista Dr. José Felipe Horta, pode ser uma das explicações para a taxa elevada registrada na cidade.
“Temos que considerar que a maternidade da Santa Casa é referência regional para partos de alto risco, portanto, esse fator deve contribuir para o percentual de cesarianas feitos em Rondonópolis”, avaliou o médico.
Entretanto, além de considerar a referência para partos de alto risco na região, a quantidade elevada de cesarianas no município também pode ter relação com a qualidade da assistência prestada, uma vez que o aumento pode estar refletindo um acompanhamento pré-natal inadequado ou indicações equivocadas do parto cirúrgico em detrimento do parto normal.
“Sabemos que os pré-natais na rede pública municipal são feitos por clínicos gerais e os encaminhamentos para acompanhamento pré-natal com um ginecologista somente é feito em casos de gestação de alto risco. Se a assistência básica pré-natal não é adequada, pode contribuir para aumentar as taxas de cesarianas”, explicou.
Segundo o profissional da medicina, é necessário investir na melhoria do atendimento nos postos de saúde, porque há também aumento no número de pessoas que chegam enfartadas nas emergências, que chegam com AVC.
“O atendimento básico é essencial para evitar enfartes, AVCs, complicações no parto e, foi justamente por isso que fizemos o projeto com a Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) para implantar a residência médica em saúde da família na cidade, e que acabou não sendo implantada porque o prefeito [José Carlos do Pátio] não quis”, lamentou.
O médico acrescentou que a Santa Casa terá residência médica em ginecologia e obstetrícia e seria importante que o Município firmasse um convênio com o hospital para que esses médicos residentes pudessem atender em um ambulatório municipal obstétrico. “Para isso, é preciso que a prefeitura dialogue com a Santa Casa”, finalizou.